sexta-feira, 7 de maio de 2010

TEMPO É PARA OS HOMENS, PERFEIÇÃO É PARA DEUS

Tenho para mim que se Deus concedesse ao homem libertar-se do tempo faria dele um deus. Esse entendimento surgiu de modestos estudos filosóficos, sob o tema Paz e Direito, sobre uma base de conhecimentos de física. Na verdade, sempre me intrigou a perplexidade humana no dualismo entre a razão e a matéria. Quando menino chegava a imaginar que talvez nada do que percebia pelos sentidos seria verdadeiro, seriam meros sonhos. Por outro lado, quando dormia, aí que a verdade real se fazia, quando sonhava. De há muito despreocupado das visões pueris, longe de mim pretender opinar a favor do inatismo, com seu ideal de bem verdadeiro, imutável, iniciado por Platão. Penso em Santo Agostinho e em Hegel. Por outro lado, não tenho que a utlização da física guarde propriamente uma comunicação com o empirismo, relacionado aos sofistas, reafirmado na tábula rasa de Locke. Meramente penso na entropia.
Quando Santo Agostinho tenta responder o que é o tempo, acaba por concluir que ele não existiria, nem passado, nem futuro, já que se manifesta apenas em sua forma presente [confissões, II, XI, 12, 14, 15 e 20]. Já Hegel, estabeleceu que as idéias só seriam racionais e verdadeiras se fossem intemporais, perenes, eternas, as mesmas em todo o tempo e lugar. Se o primeiro, de propósito, preferia se afastar da dúvida trazida pela vissicitude dos conceitos, dizendo “gosto mais de responder que não sei, quando de fato não sei...”, diferentemente, o segundo a encarava, explicando que a razão é histórica e é o conhecimento da harmonia entre coisas e idéias [CHAUI, convite à filosofia, 2001. p. 81].
Na física, a segunda lei da termodinâmica determina que a quantidade de entropia de um sistema isolado tende a aumentar com o tempo, até alcançar um valor máximo. A entropia é uma grandeza que expressa quanto de energia não pode ser transformada em trabalho em transformações energéticas. Significa que o “princípio da conservação da energia” é um mito. É uma condição fictícia especial, utilizada como modelo para estudos. A consequencia disso é que sistemas mecânicos, como o próprio sistema solar, um dia se extinguirão. O mesmo ocorre com sistemas biológicos, seres vivos, que também são sistemas, pois um dia falecerão. Explico. Sistemas consomem energia para subsistirem. Isso é chamado trabalho. Consumo de energia nada mais é que uma transformação energética. Cada transfomação energética gera uma perda irrecuperável, que é a dissipação de energia. Essa perda vai exaurindo o potencial energético até sua “entropização”. A entropização plena de um sistema é a definição científica do caos.
Parece complexo? No modelamento, talvez sim. Na consequencia, não. Um bom exemplo é o “moto-perpétuo”, uma máquina que jamais pare de funcionar sem ser necessário acrescentar energia. Há um filme brasileiro, chamado Kenoma, que conta a história de um cidadão simples que pensou ter inventado a máquina impossível, do ponto de vista material. Metaforicamente, a máquina o mata. Quem o provou essa impossibilidade da matéria diante do tempo foi Einstein, pela relatividade. Segundo ela, o tempo tende a zero, se a velocidade tender ao infinito. Ocorre que a matéria tem sua inércia aumentada exponencialmente em proporção à velocidade. Quanto maior a inércia, menor a velociade. Somente algo sem massa, sem matéria, poderia se libertar do tempo a altíssimas velocidades[1].
Concluo, então, que a chave para se achar a verdadeira razão seria o estancar do tempo. Estancar o tempo seria negar sua existência. Vê-se então que é ele quem determina tudo. Os sistemas só existem no tempo, senão não são sistemas. O homem e sua razão só existem no tempo, senão estarão livres da matéria em seu conceito físico. Senão, deixará de ser homem. Existência, livre do tempo, é perfeição.
Não por acaso, Moisés proclamava: “Porque mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que passou, e como uma vigília da noite”. [Salmo, 90,2].
Flávio Dutra Doehler
[1] É por isso que cientistas debruçam-se sobre aceleradores de partículas para descobrirem a origem do universo.

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